terça-feira, 17 de abril de 2012

Queijo artesanal da serra da Canastra luta contra barreiras legais

As belezas da serra da Canastra não são feitas apenas para os olhos. É possível apreciá-las, também, com o paladar: afinal, um dos produtos mais cobiçados da região é seu queijo.

Feito artesanalmente há séculos, sempre por pequenos produtores, as qualidades que o tornam único são dadas pelas características naturais da microrregião: o clima, a pastagem e a fauna bacteriana do lugar.
O preparo tradicional do queijo da Canastra pode envolver também um período mais longo de maturação que o de outras regiões mineiras.
O visitante deverá perceber que o produto típico não guarda semelhanças com o queijo minas industrializado encontrado nos supermercados. As fazendas da região, inclusive, não têm sequer autorização para comercializá-lo fora dos limites do Estado de Minas Gerais.
A limitação é fundamentada em uma legislação federal de 1952, amparada por diversas portarias subsequentes, que restringem o trânsito de derivados de leite cru. 

Maria do Carmo/Folhapress

Queijo da serra da Canastra, produto mais conhecido da gastronomia da região, no sul de Minas Gerais

Queijo da serra da Canastra, produto mais conhecido da gastronomia da região, no sul de Minas Gerais

 
Se a justificativa para tais medidas é de base higiênica, muitos dos produtores tradicionais sustentam que elas não são amparadas em pesquisas científicas e existem apenas para benefício do produto industrializado. "Do contrário, por que a França podem exportar seus queijos de leite cru, famosos em todo o mundo, e nós não?", justifica João Carlos Leite, presidente da Cooperativa de Crédito de São Roque de Minas.



 
NOVAS NORMAS
A questão dos queijos artesanais brasileiros em face às restrições ao leite não pasteurizado tem sido discutida recentemente em diversas esferas. Em dezembro passado, o Ministério da Agricultura publicou a instrução normativa nº 57, que intensifica a inspeção sanitária, permite a maturação dos laticínios por menos de 60 dias e abre a possibilidade da comercialização dos produtos mineiros em território nacional.
Para João Carlos Leite, porém, tais medidas não são suficientes, pois fazem com que a mercadoria do pequeno produtor chegue ao consumidor final a um preço inviável.
O produtor possui 50 vacas leiteiras (todas devidamente batizadas), sendo que, em média, entre 38 e 40 se encontram simultaneamente em período de lactação. "Consigo tirar de seis a sete litros de leite de cada vaca por dia, o que não é muito. Mas, para o queijo da serra da Canastra, quanto menos leite produz o animal, melhor ele fica", revela.
Apesar das discussões em torno dos laticínios, uma boa notícia: no próximo mês, o queijo da serra da Canastra deve ganhar um selo com certificado de origem, que protegerá a identidade do produto original e tende a preservar os métodos tradicionais de fabricação.

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