As belezas da serra da Canastra não são feitas apenas para os olhos. É
possível apreciá-las, também, com o paladar: afinal, um dos produtos
mais cobiçados da região é seu queijo.
Feito artesanalmente há séculos, sempre por pequenos produtores, as
qualidades que o tornam único são dadas pelas características naturais
da microrregião: o clima, a pastagem e a fauna bacteriana do lugar.
O preparo tradicional do queijo da Canastra pode envolver também um
período mais longo de maturação que o de outras regiões mineiras.
O visitante deverá perceber que o produto típico não guarda semelhanças
com o queijo minas industrializado encontrado nos supermercados. As
fazendas da região, inclusive, não têm sequer autorização para
comercializá-lo fora dos limites do Estado de Minas Gerais.
A limitação é fundamentada em uma legislação federal de 1952, amparada
por diversas portarias subsequentes, que restringem o trânsito de
derivados de leite cru.
Maria do Carmo/Folhapress |
Queijo da serra da Canastra, produto mais conhecido da gastronomia da região, no sul de Minas Gerais |
Se a justificativa para tais medidas é de base higiênica, muitos dos
produtores tradicionais sustentam que elas não são amparadas em
pesquisas científicas e existem apenas para benefício do produto
industrializado. "Do contrário, por que a França podem exportar seus
queijos de leite cru, famosos em todo o mundo, e nós não?", justifica
João Carlos Leite, presidente da Cooperativa de Crédito de São Roque de
Minas.
NOVAS NORMAS
A questão dos queijos artesanais brasileiros em face às restrições ao leite não pasteurizado tem sido discutida recentemente em diversas esferas. Em dezembro passado, o Ministério da Agricultura publicou a instrução normativa nº 57, que intensifica a inspeção sanitária, permite a maturação dos laticínios por menos de 60 dias e abre a possibilidade da comercialização dos produtos mineiros em território nacional.
A questão dos queijos artesanais brasileiros em face às restrições ao leite não pasteurizado tem sido discutida recentemente em diversas esferas. Em dezembro passado, o Ministério da Agricultura publicou a instrução normativa nº 57, que intensifica a inspeção sanitária, permite a maturação dos laticínios por menos de 60 dias e abre a possibilidade da comercialização dos produtos mineiros em território nacional.
Para João Carlos Leite, porém, tais medidas não são suficientes, pois
fazem com que a mercadoria do pequeno produtor chegue ao consumidor
final a um preço inviável.
O produtor possui 50 vacas leiteiras (todas devidamente batizadas),
sendo que, em média, entre 38 e 40 se encontram simultaneamente em
período de lactação. "Consigo tirar de seis a sete litros de leite de
cada vaca por dia, o que não é muito. Mas, para o queijo da serra da
Canastra, quanto menos leite produz o animal, melhor ele fica", revela.
Apesar das discussões em torno dos laticínios, uma boa notícia: no
próximo mês, o queijo da serra da Canastra deve ganhar um selo com
certificado de origem, que protegerá a identidade do produto original e
tende a preservar os métodos tradicionais de fabricação.
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